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sábado, 6 de agosto de 2011

Sparkiling


Além dos meus pais, é claro, que sempre me incentivaram a escrita, tive algumas pessoas cuja participação singular foram importantíssimas para minha auto estima literária. 

Quando eu tinha uns 7 anos troquei correspondências com um tio de minha mãe. Ele era um querido e enquanto morei em Belo Horizonte (ele morava em São Paulo), foi meu interlocutor durante um ano. Eu não me recordo o conteúdo das cartas que enviava para ele. Mas imagino que deviam ser enormes. Pois além de ser apaixonada por enviar e receber cartas, eu já era prolixa na escrita desde então.

E umas das coisas que mais me recordo e que ficou marcado em mim é que depois de enviar para ele um poema pedindo sua opinião, ele escreveu de volta que guardaria o poema pois quando eu me tornasse uma escritora famosa iria mostrar para o mundo que eu já escrevia muito bem desde pequena. 

Imagino que o poema não tenha sido tão lindo a ponto de merecer tamanho elogio. Eu tinha 8 anos apenas. Mas aquelas palavras e aquele incentivo ecoam até hoje na minha vida. Era como se nas cartas dele eu visse a promessa de que poderia sim ser escritora, era como se ali eu recebesse a confirmação e o encorajamento de que tudo daria certo.

Este tio, querido, já se foi há alguns anos. Mas sempre carreguei comigo aquelas palavras carinhosas. Elas marcaram minha escrita pra sempre. Ele tornou-me, com sua maneira tão delicada, escritora.

Minha avó materna também teve o papel de manter em mim a chama acesa. Quando eu ia visitá-la ela me deixava abrir uma caixa enorme que tinha guardada dentro do armário. Era uma caixa de correspondências pessoais. E com as mãos mergulhadas dentro da caixa eu as jogava para cima e sorteava. Assim como fazia a Xuxa! E lia, lia várias, em voz alta... Lia sempre para a minha avó.
Houve uma outra época em que ela passou a nos visitar e deixava que eu lesse para ela meus poemas e minhas redações. No final da leitura ela sempre dizia: "mas está muito lindo, Juliana." E sempre me dava dinheiro como "um presente por você ter feito um texto tão bonito". Duvido que na história da escrita alguém tenha tido um mecenas tão querido como o meu. 

Minha avó também já se foi, há outros tantos anos. Mas deixou-me aqui acreditando que a escrita também pode ser lucrativa. E não, não é de dinheiro que estou falando. Não lia os textos porque esperava o dinheiro. Lia porque minha avó me proporcionava o prazer de saber-me ouvida. Seu olhar atento, seu sorriso, sua cumplicidade enquanto me ouvia valiam muito mais do que qualquer nota de cruzado! Ela manteve-me, na sua maneira atenciosa, escritora.

Depois que eles se foram, calei-me. Minha escrita ficava dentro de casa, afagada pelos meus pais, ou arriscava publicações outras, meio tímida para o mundo, mas querendo o universo.

Até que conheci os blogs. Poemas, catarses, eu ia fazendo textos avulsos, criando páginas e deletando-as também. Antes d´O batom de Clarice eu já produzia a minha escrita virtual. E de uns anos para cá uma amiga de minha mãe tornou-se minha leitora constante. A virtualidade aproximou-nos novamente de Helia e ela foi acompanhando meus blogs e tornou-se leitora fiel dos meus rabiscos. Sei que sempre elogiou minha escrita. Quando comecei este blog, por exemplo, tinha duas leitoras diárias: ela e minha mãe.

Helia enviou-me marcadores de livros, enviou-me livros. Fez com que Portugal e sua literatura - algo que tanto amo - estivessem sempre próximas e ao meu alcance. Helia, leitora, substituiu duas pessoas ausentes. Através dela ainda ouço meu tio falando que "vou virar uma ótima escritora" e ainda sinto minha avó sorrindo ao final da leitura e planejando mais um presente de incentivo. 

A escrita costuma ser um ato solitário e difícil. Diferente da música e do canto - afirmam os poetas - a escrita não recebe elogios sonoros, visíveis. O silêncio é a aura que paira sobre ela.

Mas eu não posso reclamar desse silêncio. Em toda a minha vida tive sorte de ter ao meu lado leitores sedentos. Pessoas que nunca deixaram minha voz literária se calar. Se o faço bem, são outros quinhentos. Mas eles sempre me permitiram fazer. Se eu fiquei prolixa, se meus textos são longos, é porque sei que enquanto teço palavras eu os tenho ao meu lado. Minha escrita é demorada e longa porque resulta sempre em carinho. Sei que enquanto costuro palavras eu os tenho próximos de mim.
Tenho o carinho do meu tio, o carinho da minha avó, o carinho de Helia.

Hoje recebi um presente dela.


A escrita é tarefa árdua. Não a domino e sei que ela tem muito mais domínio sobre mim. Mas com este presente, ainda que árdua, a tarefa será feita de maneira brilhante, literalmente.

Helia, mais uma vez, obrigada. Não somente pela caneta - que é a caneta mais linda que já sonhei ter - mas por me ler. 


Você mantém vivo o mesmo sentimento de afago e conforto que eu sentia ao lado do meu tio e da minha avó. Obrigada.

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