“As coisas ainda não têm sido tão intimidantes”, disse Radcliffe durante uma conversa em uma imponente sala – bem ao estilo de Hogwarts – em Knebworth, uma enorme mansão do século 15, a mais ou menos uma hora de Londres. “Tem sido diferente, é óbvio, da minha antiga vida, mas é tão divertida quanto, se não for ainda mais. E a razão principal que não torna as coisas intimidantes é porque todo mundo no set é legal e prestativo, o elenco e a equipe e (o diretor) Chris Columbus. Todos realmente me ajudaram a levar uma vida normal”.
“Meus pais, principalmente, têm me ajudado muito”, ele complementou. “Eles quiseram ter certeza de que eu mantenha meus pés no chão, o que eu acho que eu teria feito de qualquer maneira. Mas eles têm sido incríveis”.
Em 2001, Rowling havia anunciado que tinha planos para sete aventuras de Harry Potter, e a Warner Bros. deixou extremamente claro que enquanto o público aparecesse para assistir às adaptações para o cinema, o estúdio iria continuar produzindo mais, possivelmente ao ritmo de um filme por ano. Na época, entretanto, Radcliffe não tinha tanta certeza se ele iria interpretar Harry por toda essa jornada.
“Acho que, de uma certa maneira, minha vida iria se tornar quase tão épica quanto a de Harry”, ele disse. "Eu vou ter 18 ou 19 anos e já terei feito tudo isso, o que será uma conquista e tanto. Mas não acho que isso vai acontecer. Não acredito que vou participar de todos eles. Provavelmente vou ficar muito sardento, muito alto, vou encolher ou qualquer coisa parecida.
Então eu vou fazer um filme de cada vez, e apenas aproveitar".
No fim das contas, Radcliffe interpretou Harry em todos os oito filmes, com 'Harry Potter e as Relíquias da Morte, Parte 2’ programado para lançamento em 15 de julho. No processo, ele acumulou uma fortuna, tornou-se uma estrela internacional e desafiou a si mesmo com papéis em outros filmes, na televisão e no palco. Mesmo assim, nem por um segundo perdeu de vista o ciclo do personagem de garoto a homem, e de bruxo em treinamento a uma força a ser reconhecida na luta contra Lord Voldemort (Ralph Fiennes).
Em uma conversa em 2005, quando estava promovendo 'Harry Potter e o Cálice de Fogo’, Radcliffe descreveu Harry como um adolescente cheio de raiva, movido pela frustração, isolamento e pelos hormônios em fúria. Pessoas-chave haviam ido embora, incluindo o seu mentor, o Professor Lupin (David Thewlis), e outras estavam dando nos seus nervos, principalmente seus amigos mais íntimos, Hermione (Emma Watson) e Rony (Rupert Grint). Até mesmo Dumbledore (Michael Gambon), sua figura paterna e mais ferrenho protetor, estava aparentemente não sendo de ajuda alguma.
Daniel Radcliffe
Então, por causa dessa falta de controle, as angústias normais que assolam qualquer adolescente o frustram de maneira muito pior. E isso faz com ele que seja muito mais hostil a pessoas como, digamos, Rony e Hermione".
“Dumbledore é visto pela primeira vez, de verdade, como sendo um velho frágil, que não está mais no ápice de seus poderes, e não sabe todas as respostas”, continua. “Isso é grande, porque frustra Harry. Agora ele quer mais do que nunca saber as respostas. Então novamente fica frustrado, e desconta nas pessoas”.
“Seu relacionamento com Dumbledore é muito interessante”, disse Radcliffe, "porque é o tipo de relação que realmente força Harry a crescer muito rápido. Isso é certamente um dos fatores, porque parte de crescer e tornar-se um adulto é a percepção de que outros adultos não são perfeitos, e não sabem tudo. E, para Harry, ter essa experiência em primeira mão...
Talvez não fique óbvio, mas tem um grande impacto".
Dois anos depois, em 2007, um Radcliffe de 17 anos parecia divertido por causa da comoção em torno do beijo extremamente recatado entre Harry e Cho Chang (Katie Leung), em 'Harry Potter e a Ordem da Fênix’. Lembre-se, Radcliffe havia acabado de fazer uma aparição bastante malvada em 'Extras’ (2006), e até aparecido completamente nu no palco na produção 'Equus’, da West End.
“Isso é hilário, não é?”, disse ele ao telefone, de Londres. “Outro dia alguém realmente me perguntou, 'O que foi mais assustador, dar um primeiro beijo no cinema ou ficar nu no palco, na frente de mil pessoas?' E eu fiquei, tipo, 'O que você acha que é mais assustador?' É óbvio que ficar nu em frente a milhares de pessoas foi mais assustador, mas mesmo isso parou de importar no fim das contas. Depois de um tempo, ficou fácil”.
“Não sei”, continuou ele. “É bizarro, mas posso entender porque as pessoas estão tão empolgadas por esse beijo, porque é um momento crucial na vida de Harry, e porque ele é um personagem tão importante para tantas pessoas no mundo inteiro. Então, de certa maneira, as pessoas mal podem esperar para assistirem a ele fazer isso. Então, eu entendo, mas é engraçado que tanto barulho esteja sendo feito ao redor do beijo quando, é claro, eu já tenha feito muito mais do que isso na frente das pessoas
“Existia muita especulação, 'Nós conseguimos fazer em um filme só?”, disse Radcliffe em outro telefonema de Londres. "E eu sempre tive na cabeça que, no sétimo (livro), existem muito poucas coisas que poderiam ser cortadas.
Então estou exultante que ele será feito em duas partes. Não acredito que conseguiríamos fazer jus ao livro de outra maneira".
A produção da saga de Harry Potter inicialmente foi concluída em junho de 2010, embora a equipe tenha retornado em dezembro para mais alguns dias de filmagens adicionais. Radcliffe descreve esses últimos dias como “muito emocionais” e com muitas lágrimas.
“O primeiro mês é sempre muito estranho”, diz Radcliffe, novamente ao telefone, de Londres, “mas felizmente houve muitas vezes durante aquele período em que encontrei as pessoas que trabalharam nos filmes. Estive em Pinewood em outro dia, preparando as coisas para 'The Woman in Black’ (seu próximo filme) e esbarrei em pelo menos umas 30 pessoas, algumas que haviam trabalhado no último filme, mas algumas que eu não via desde o terceiro ou até mesmo o segundo filme”.
“Eu sempre disse que Harry Potter é como a Máfia – uma vez que você está dentro, você nunca consegue sair inteiramente”, diz ele. “Eu vou estar com essas pessoas pelo resto da minha vida, não importa pra onde eu vá, ou o que aconteça”.
“Existe uma certa tristeza em estar indo embora”, continua Radcliffe, “mas também cheguei agora ao ponto em que estou empolgado com o futuro. Também estou muito ansioso para assistir ao filme. A jornada ainda não terminou, no sentido de que as pessoas ainda têm de assistir aos (dois) filmes e tirarem suas próprias opiniões. E eu estou curioso em saber o que as pessoas vão achar”.
Quando perguntado sobre o que levaria com ele, como ator e como pessoa, dos seus anos como Harry Potter, o jovem ator para e reflete por um momento.
Ainda absurdamente educado e falando com empolgação, muito parecido com aquele menino no sofá, uma década atrás, Radcliffe tenta resumir tudo em algumas poucas palavras.
“Como você diz, são 10 anos”, diz ele. “É tudo. Eu nunca vou conseguir assistir a uma cena de qualquer um desses filmes sem imediatamente associá-la à minha lembrança sobre aquele dia no set ou à memória sobre o que estava acontecendo na minha vida. Estou levando comigo uma gama de experiências, que atores que estão em escolas de teatro matariam para ter, em termos das pessoas com as quais eu pude trabalhar, assistir e aprender”.
“E vou embora, mais importante, com o amor pelo cinema, ou pelos sets de cinema, e pelo mais incrível grupo de amigos que qualquer pessoa poderia desejar”, conclui. “Não estou falando apenas sobre o elenco. Muitos de meus melhores amigos estão na equipe e você sabe que essas são pessoas que vou levar comigo para sempre”.
“E eu me sinto com muita, muita sorte”.
(Ian Spelling é jornalista freelance sediado em Nova York.) The New York Times News Service/Syndicate - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times._NYT_
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